Vasco Cavalcante
Trechos de comentários e análises críticas sobre seus poemas, publicados em livros, sites, revistas, jornais, etc.

Trechos do prefácio escrito pelo poeta João de Jesus Paes Loureiro, para o livro "Reverso dos dias", lançado em setembro de 2017, pela Editora Patuá,
"Vasco Cavalcante procura trabalhar com a estrutura e o funcionamento da linguagem poética. Concebe os poemas feito microcosmos, que não resultam isolados, mas desdobrando-se no universo-livro. Em cada poema, o verso, percebe-se, com frequência, pode ser apenas um verso-palavra, é proposto como substância fim e meio de expressão. Uma espécie de meio que é sua própria finalidade. O caráter fragmentário como expressão do uno feito constelação do múltiplo, é, por sinal, uma das características da arte atual. O dadaísmo fez isso, o cubismo e o concretismo, também. Também o faz a arte na atualidade, que denomino de “contemporaneidade complexa”, fase consagrada academicamente pela conceituação de Liotard como “pós modernidade”." (João de J. P. Loureiro)
"A liberdade de recepção de “Reverso dos Dias”, como poema-livro ou livro de poemas é sua abertura estrutural. A poesia de Vasco Cavalcante prioriza a composição. Daí sua estrutura aberta nessa obra. A fragmentação sob o construtivismo da bricolagem provoca a relação retentiva de sentidos na relação vocabular em que o sentimento não se aparta da estratégia formal. Coloca o texto à prova da leitura, à espera que o leitor perceba não o óbvio nas palavras mas o obtuso que está por trás delas, como pensa Roland Barthes a respeito da percepção direta (óbvia) e a simbólica (obtusa) nas coisas. A poesia de Vasco Cavalcante, neste livro, corresponde a uma nova fase da herança formalista, quando o apreço pela palavra-coisa vem intercorrente com a expressão lírica. E define o caminho de sua crescente independência e afastamento de modelos e influência iniciais. Evidencia-se um ethos pessoal, sem a preocupação de demonstrar isso ou aquilo. Está mais de acordo com a complexidade atual da poesia e sua “infinitização de sentidos”, como declara em seu fundamental livro “A revolução da linguagem poética”, a búlgaro-francesa Júlia Kristeva. " (João de J. P. Loureiro)

Trechos do posfácio escrito pelo poeta Jorge Henrique Bastos, para o livro "Reverso dos dias", lançado em setembro de 2017, pela Editora Patuá.
"Desde a sua estreia, no início dos anos 80, em Belém do Pará, com o projeto criado pelo grupo reunido em torno do “Fundo de Gaveta”, Vasco Cavalcante expôs as balizas que estabeleceram o direcionamento da sua poesia atual, e que agora parece atingir a maturidade. (Jorge Henrique Bastos)
O apego a vocábulos recorrentes, o forjar de imagens que reiteram sua mundividência, a exploração da matriz concretista que arma o andaime dos seus versos, são algumas das particularidades que se evidenciam em Reverso dos Dias.
Outro fato a destacar, é a presença real da poesia do conterrâneo, Max Martins, na sua produção literária, cujo poema em homenagem ao autor de “Caminho de Marahu” demonstra que essa evidência ainda está em aberto, produzindo efeitos que certamente agem – continuarão a agir – sobre as novas gerações daquela região do país." (Jorge Henrique Bastos)

Comentário escrito pelo poeta Casé Lontra Marques, sobre o livro "Reverso dos dias", lançado em setembro de 2017
pela Editora Patuá, de São Paulo.
"Os poemas deste livro exploram uma dicção que, de tão concisa, chega a cortar, abrindo brechas por onde se propagam os espantos. Não por acaso a presença reiterada do verbo "singrar" - que, num texto sinuoso, se transmuta em "sangrar". Há ainda no volume um repertório amplo de procedimentos poéticos, mas empregados sem estardalhaço: mão (ou voz) bem medida, portanto. E - ao mesmo tempo - desmesurada: digo isso pensando na energia de certas imagens, especialmente aquelas presentes em sequências condensadas também sonoramente." (Casé Marques)

Trechos do prefácio escrito pelo poeta Paulo Nunes, para o livro
"Sob Silêncio", Ed. Patuá, de São
Paulo, lançado em março de 2015
"A escrita de Sob Silêncio, fingimento potencial do mundo, espelho de refração do céu e do inferno (cidade, de novo), é repleta de cadafalsos, armadilhas parenterais, como talvez desejasse Aristóteles. Afinal, diz o texto de abertura: “sobre o silêncio, não há nada... à luz de um poema, sob silêncio,// mu(n)do”. Eis a sentença, a mais tensa talvez destas páginas, em que o leitor ou ficará mais recolhido em si ou se distenderá, opção a fazer no livro em que a palavra é levada às últimas consequências." (Paulo Nunes)
"O silêncio é caro para os ocidentais, que pouco sabemos lidar com ele, mas é de força transcendente – como por sinal este poeta aposta – para os orientais. Diz Steiner que é difícil lançar mão de palavras (manipulação, noutro sentido) para falar do silêncio, mas não para o poeta, que filho do desaFIO, impõe-se ao desaFIAR o silêncio, através do jogo de palavras entrecruzadas. Assim é Vasco Cavalcante: desafiador, Ariadana de calça comprida, que traz à cena estético-comunicacional destas páginas a metalinguagem, um estratagema que custa caro aos escritores da modernidade e se transforma, página a página, na senha (não existem livros-cidade sem senhas), esta, a ser apresentada como uma das mais instigantes estratégias do poetar, espécie de piscadela chamativa aos leitores que se desejam atraídos por esta esfinge de palavras." (Paulo Nunes)

Trecho do posfácio escrito pelo poeta Antônio Moura, para o livro "Sob Silêncio", lançado em março de 2015, pela Editora Patuá/SP.
Numa demonstração de que a poesia é uma matéria feita da reunião de vários tipos de materiais, uns delicados, outros brutais, a poesia de Vasco Cavalcante é bem vinda, também como forma de resistência do olhar transfigurador da arte num mundo cada vez mais banalizado." (Antônio Moura)

Comentário feito pela escritora e professora de Literatura Danuza Lima, no site O parlatório, sobre o livro "Sob Silêncio" (Ed. Patuá), lançado em março de 2015.
Se o silêncio ocupa este lugar primordial na poesia fluídica e íntima de Vasco é tão somente como válvula básica para interpretação desta poesia ligada às ações do sentir. A presença constante de imagens regidas pelo regime diurno da imagem – ao gosto de Gilbert Durand – confere uma unidade imagética ao livro consonante à atmosfera de uma descida – o que é paradoxal – ao núcleo íntimo deste eu, arrefecido pelo conhecimento e descoberta do mundo. Cada verso emoldura a certeza de que a cada descida ao núcleo do poema, adentramos o núcleo de nós mesmos, diante das faces do tempo, promovendo nesta ação, uma proliferação de signos e talismãs, como se Cronos a nós traçasse a caminhada rumo a este mergulho. As águas, simbolicamente separatistas e se doces, unificadoras e transcendentes firmam-se neste jogo íntimo proposto pelo silêncio significante de Vasco Cavalcante, que soube exilar-se na linguagem para existir em silêncio." (Danuza Lima)
"Uma poesia de exacerbado silêncio íntimo de si mesmo, como hipótese e poderoso instrumento para recifrar o mundo. Uma conjectura para trazer a primeira impressão do livro de Vasco. Este que parece entregar parte de si em cada verso, esgueirando-se nos espaços significantes tanto da palavra quanto do silêncio, nutrido por uma subjetividade absurda, Vasco bebe esta sensibilidade aguçada que se revela em seus versos de uma tradução romântica com a palavra, palavra na obra do paraense está próxima, muito próxima ao seu uso mágico, romântico porque alimenta-se de uma pureza composicional, que se nutre da escolha no campo semântico da palavra para nos terrenos pragmáticos, instaurar a verdade deste poesia e o retrato deste eu-lírico." (Danuza Lima)